No município de Água Clara, Mato Grosso do Sul, Sônia Ferreira Vida, de 47 anos, se destaca como a única mulher entre os comboistas da MS Florestal. Diariamente, ela percorre em média 300 quilômetros em um caminhão comboio, levando combustível para abastecer os maquinários das equipes que atuam em operações florestais. Para Sônia, estar atrás do volante é a realização de um sonho de infância.
"Não foi fácil chegar aqui, mas acreditei que era capaz e me coloquei à frente", afirma. "Faço todos os dias como se fosse o primeiro dia de trabalho."
Filha caçula de uma família de caminhoneiros, Sônia nasceu e cresceu em Água Clara. Embora tenha se formado em Administração, seu verdadeiro desejo sempre foi seguir os passos da família. Com a chegada de grandes empresas na região, ela viu a oportunidade de perseguir seu sonho. No final de 2022, deu o primeiro passo ao se inscrever no curso de Movimentação de Cargas Perigosas (MOPP), requisito essencial para conduzir caminhões como o comboio.
Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Detran-MS), apenas 1.573 mulheres possuem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) categoria D no estado, pré-requisito para dirigir veículos como o de Sônia. Além disso, o programa estadual "Voucher Transportador", que oferece a alteração de categoria de forma gratuita, conta com mil vagas, das quais apenas 132 foram ocupadas por mulheres na última convocação.
Durante sua trajetória, Sônia enfrentou muito desdém, especialmente por parte de homens. "Ouvia que nenhuma empresa iria contratar uma mulher como motorista ou que eu não duraria nem um mês", conta. "Depois que concluí o curso, enviei currículos para várias empresas até ser chamada para esta vaga. Quando o RH me perguntou se eu estava preparada para o desafio, respondi com muita convicção que sim."
Seu trabalho começa cedo, percorrendo estradas de terra em meio a plantações de eucalipto, onde a única comunicação é pelo rádio. Com habilidade, ela manobra o caminhão por terrenos irregulares e manuseia a mangueira para abastecer os maquinários, sem precisar de ajuda. "O trabalho em si não é difícil, o trajeto é o mais demorado. E aqui não tem essa de aliviar o serviço pra mim só porque sou mulher. Sou tratada com o mesmo respeito que todos", reforça.
Antes de dirigir o comboio, Sônia já havia trabalhado como motorista de ônibus em uma prestadora de serviços em Água Clara. "Sou muito grata pela época do ônibus, mas gosto mesmo é do caminhão. No meu dia, sou eu, meu caminhão e Deus. É muito bom ter esse momento pra pensar, colocar uma música se eu quiser e dirigir sem carregar passageiros. É meu momento", expressa.
Além de profissional dedicada, Sônia é mãe. Ao encerrar o expediente, assume seu segundo turno ao lado do filho caçula, Júnior, de nove anos, diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) durante a pandemia. "É o comboio que me ajuda a proporcionar uma vida melhor para o meu filho. Todos os dias, quando chego do trabalho, ele já está me esperando, todo feliz ao ver o caminhão", relata.
O orgulho dos filhos é evidente. "O Júnior teve que fazer um desenho de Dia das Mães na escola. Ele desenhou um caminhão. Quando a professora perguntou onde eu estava no desenho, ele explicou: 'Minha mãe está aqui dentro do caminhão'. Sinto que todos eles sentem muito orgulho de mim", declara.
Com determinação e coragem, Sônia quebra barreiras e inspira outras mulheres a seguirem seus sonhos, mostrando que o lugar da mulher é onde ela quiser, inclusive atrás do volante de um caminhão.